bio

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[PORT]

São Pedro d’Aldeia, 1991 – summer babies

Pelvs-Coo-webHavia menos de 5 anos os Smiths tinham acabado, mas os Pixies tinham surgido. O Pavement ainda não era a banda do ano do Melody Maker e o Hacienda estava longe de ser um condomínio da classe média em Manchester. A MTv tinha chegado ao Brasil havia apenas alguns meses. Ou seja, todo mundo conhecia Soup Dragons mas nunca tinha ouvido falar em Yo La Tengo. Com Out of Time, o REM passava de queridinho das college radios para queridinho de quase todas as rádios do mundo.

Foi mais ou menos nesse contexto que passamos aquele verão de 1991 em São Pedro d’Aldeia, litoral norte do estado do Rio de Janeiro. Lá formávamos nossa cultura musical, garimpando vinis do The Church, New Order e Midnight Oil nas casas de praia dos amigos, e gravando mix tapes que poderiam incluir tranquilamente, no mesmo lado, Lloyd Cole & The Commotions, My Bloody Valentine, Cocteau Twins, ou até mesmo Dinosaur Jr, que alguém já havia descoberto em uma locadora de CDs do Rio.

Ainda faltavam alguns meses para o Nevermind, mas decidimos montar uma banda.

Rio de Janeiro, 1991 – winterlong

Os primeiros ensaios aconteceram em julho daquele ano, na Barra da Tijuca, bairro praiano do Rio de Janeiro. Éramos 2 moleques com pouco mais de 15 anos (Rafael Genu e Gustavo Seabra) e 2 young adults beirando ou talvez passando um pouco dos 20 (VRS Marcos e Dodô Azevedo). Respectivamente baixo, 2 guitarras e bateria. Sem escolha, Gustavo assumiu os vocais, geralmente cobertos por grossas camadas de microfonia, distorção e timidez. A cada ensaio, novas canções, ora vindas de Dodô, ora de Gustavo. O nome PELVs, no entanto, veio de Genu. E nesse ritmo, antes de acabar o ano, a primeira fita demo ficou pronta.

Não havia internet, nem Facebook, mas não faltavam fanzines e lojas de discos. Nossos preferidos eram o midsummer madness, capitaneado por Rodrigo Lariú, e a Spider, em Ipanema, que frequentávamos para ter certeza de que não éramos as únicas pessoas do Brasil que conheciam Sugarcubes.

Entre 1991 e 1993, gravamos a maioria das canções que hoje compõem os 4 volumes da Caixa 1991-2012. Nesse período, todas as nossas fitas-demo tinham o mesmo nome – Peter Greenaway’s Surf  – exceto Massacre Eleven, concebida para os mercados norte-americano e britânico. Em média, cerca de 20 musicas gravadas no melhor estilo lo-fi, em casa, num estúdio portátil Tascam de 4 canais.

Também nessa época Dodô, Marcos, Lariú e Rogério Maradona (não o jogador de futebol, mas aquele dos vinis do The Church) comandaram o programa de rádio College Radio, na extinta Fluminense FM, onde a banda fez aparições eventuais. A partir de 1992, começam os primeiros shows, alguns em lugares lendários, como Espaço Retrô (SP), Garage Art Cult e Circo Voador (RJ), normalmente acompanhados por Second Come, Beach Lizards, Dash e outras bandas da cena alternativa nacional.

Peter Greenaway’s surf, 1993

1998 - Dodô, Genu & Gustavo

1998 – Dodô, Genu & Gustavo

Até que o assunto chegou aos ouvidos de André X, da Plebe Rude, e Dado Villalobos, da Legião Urbana. Os dois também tinham um programa de radio – o Hell Radio – e eram sócios da Rock It!, misto de loja de discos e selo alternativo, que funcionava num subsolo no Leblon – outro bairro praiano do Rio. Eles estavam à procura de bandas que soassem mais originais que a média do mercado. E como a média do mercado não conhecia Teenage Fanclub, ninguém percebia que as nossas melodias e harmonias eram inspiradas nos escoceses de Glasgow. Fato é que fomos convidados primeiro para tocar em uma festa do Hell Radio na finada Torre de Babel, em Ipanema, e depois para gravar um disco a ser distribuído no Brasil inteiro pela EMI, a major por trás da Rock It!

Ainda sem ter a real dimensão de que fazíamos parte da cena que trouxe novas referências ao rock Brasil – ao lado de bandas como Pin Ups e Killing Chainsaw – fomos para o estúdio, quer dizer, para o quarto do Gustavo, com equipamentos emprestados ou alugados a preços módicos. Lá regravamos algumas músicas das demos, rearranjamos outras e incluímos um punhado de novas canções, que não paravam de pipocar.

Em outubro de 1993 demos à luz as 21 musicas que compõem Peter Greenaway’s Surf – ou alguém aí acha que o nosso primeiro álbum poderia ter outro nome? – exatamente o mesmo número de faixas do Zen Arcade, do Husker Dü, como bem lembrou o reverendo Fabio Massari numa entrevista à MTv, na época.

Members to sunna, 1997

1997, Gustavo, Genu & Dodô

1997, Gustavo, Genu & Dodô

Muita coisa mudou nos 4 anos que separam o primeiro e o segundo album da PELVs. Com a explosão do mangue beat e do forrocore, cantar em inglês havia virado um verdadeiro pecado, e a Rock It! não queria mais bandas assim. Marcos resolveu sair da banda para se dedicar ao trabalho. Gustavo e Dodô abriram um estúdio na Praia de Botafogo – o Freezer – e descobriram as infinitas possibilidades das mesas de 32 canais e dos microfones condensados. O midsummer madness estava passando da fita-cassete para o compact disc e convidou a PELVs para gravar um disco totalmente independente.

A fim de preparar o terreno, lançamos mais uma fita-demo, composta de uma canção nova – Bric-abrac between aspirins – uma sessão acústica gravada em one-take no Freezer, e 3 musicas inéditas, todas agora disponíveis na Caixa.

Bric-a-brac deu o tom a Members to Sunna. Camadas de guitarras viajantes, camas de teclado, sintetizadores, muitos vocais, enfim, nada que lembrasse o judiado Tascam Porta 4 com que tínhamos gravado quase todo Peter Greenaway’s Surf. Nesse período, a banda fazia shows em formato power trio ou, em algumas raras ocasiões, com um tecladista convidado, formação que dava uma pegada mais rock and roll às canções plácidas e contemplativas do disco.

Peninsula, 2001

Nós costumamos dividir os 4 albuns da PELVs entre brancos – Peter Greenaway’s Surf e Peninsula – e azuis – Members to Sunna e Anotherspot. Os primeiros são mais solares, crus e barulhentos, enquanto os últimos são mais nublados, limpos e rebuscados. Peninsula, na virada do milênio, representou uma volta às origens, uma tentativa de redescobrir quem éramos 10 anos antes, uma vontade de fazer um disco bem rock and roll, com astral surf. As fotos da capa e encarte foram tiradas na Ilha do Anjo, em Cabo Frio, pela fotógrafa Luiza Leite, amiga da banda. A primeira das 13 faixas do disco – Even if the sun goes down – soava como se o Cake fosse uma banda havaiana, e as outras acabaram indo pela mesma praia. Still PG, desde o nome, queria afirmar que ainda éramos os mesmos moleques de Peter Greenaway’s Surf.

Pelvs1997-webNesta época a banda também passou por mudanças. Dodô havia abandonado a banda logo após o lançamento de Members to Sunna. Segundo ele, pelo mesmo motivo que as pessoas abandonam as torcidas organizadas dos clubes de futebol (nós também não entendemos a analogia). Recrutamos logo de cara o baterista Ricardo Mito, que tocava em várias bandas do underground carioca, como o Cigarettes. E logo depois veio Gordinho, amigo de faculdade do Genu, que finalmente percebera que Sonic Youth era mais legal que Iron Maiden. Outro integrante que ajudou muito a dar a sonoridade peculiar de Peninsula foi Pedro Alcoforado. Pedrão, além de tocar um trompete refinado, fazia bons vocais apoio e volta e meia empunhava uma terceira guitarra. No disco anterior, já havíamos utilizado muito trompete, mas sintetizado. Em Peninsula, tudo foi gravado sem sintetizadores e com os arranjos definidos mais por sonoridade e feeling que por conceitos. E assim ficamos conhecidos como a banda indie que tinha um trompetista (ou, como o Pedrão odiava ser chamado, corneteiro).

Anotherspot, 2007

Quebrando a regularidade de lançar um novo disco a cada 4 anos, gravamos Anotherspot ainda no Freezer, antes de Gustavo e Dodô se desfazerem do negócio. As fotos do encarte foram tiradas por Genu numa visita a uma plataforma da Petrobras na Bacia de Campos. Outro protocolo quebrado foi o de misturar músicas novas com outras resgatadas do fundo do baú da banda. Neste álbum, a única musica “antiga” é Baby of Macon, totalmente reformulada e fundida com Brazilian Food – as versões originais de ambas estão disponíveis para download na Caixa. Todas as demais faixas foram compostas após o lançamento de Peninsula.

foto divulgação banda PelvsA complexidade dos arranjos das 9 canções de Anotherspot e a saída de Pedrão da banda criaram a necessidade de ir atrás de novos integrantes. Juntaram-se assim à PELVs o guitarrista Clinio Jr, vindo da sergipana Snooze, o tecladista André Saddy e o multi-homem Daniel Develly, que no palco se reveza entre violão, guitarra, percussão e o que mais precisar. Foram poucos porém intensos shows, como o lançamento no Estrela da Lapa (RJ) e o do festival Goiania Noise, em 2008, uma sequência interrompida em 2010 pela partida repentina de Genu à França.

Caixa 1991-2012

No período de exílio de Genu (2010-2012), a banda fez apenas 2 shows, um no Rio e um em São Paulo, este último sem o baixista. Mas Gustavo aproveitou o tempo livre para finalmente começar a gravar seu projeto-solo – Velha, com lançamento previsto para 2014 – e terminar de organizar a prometida Caixa, espécie de coletânea de lados-B, covers, sobras de estúdio e registros ao vivo, formando um retrato de mais de 20 anos de carreira. O garimpo e os primeiros retoques vinham sendo feito há alguns anos, mas foi nesse período de hibernação forçada da banda que o projeto finalmente encontrou terreno para cristalizar.

O material reúne desde os primeiros registros da banda, no saudoso Estúdio Horizonte, em 1991, até as ultimas gravações no PELVs Home Studio, no bairro do Flamengo (Rio de Janeiro). O período do Freezer também está comtemplado com vários registros, além de uma releitura de AL Fucked que Genu trouxe na mala de Paris. Tudo encontra-se enfim disponível para download na seção music do site.

Os 4 volumes de Caixa são uma viagem no tempo e trazem alguns momentos importantes da trajetória da banda. Como quando gravamos Uterine Ana Luiza para a coletânea No Major Babes, do jornalista Marcel Plasse, em 1992. Ou ainda os tributos a Yoko Ono, com a participação da atriz e cantora Marilia Barbosa, e Second Come, onde prestamos nossa homenagem ao grande Fabio Leopoldino com uma canção inédita, que eles só haviam tocado uma vez, no College Radio, em 1991.

No mais, as 68 músicas falam por elas mesmas – mesmo aquelas que são apenas barulho.

2013… What else is new?

L1080410 ECom o lançamento da Caixa 1991-2012, a PELVs encerra um ciclo. Conforme titulou Lloyd Cole ao lançar a sua Caixa, em 2009, limpamos os cinzeiros. Mas a régua só será passada no segundo semestre de 2013, quando Peter Greenaway’s Surf alcançará 20 anos de lançamento. Nos shows comemorativos, a banda atual pretende tocar as 21 faixas do disco na sequência, com a participação especial dos membros originais Marcos e Dodô. O repertorio será complementado com pitadas da Caixa, especialmente registros anteriores ou contemporâneos a PG’S, isto é, a fase 1991-1993.

Para o ano, um novo disco começa a ser preparado, novamente misturando canções novas e antigas, quiçá com outras leituras para algumas músicas da Caixa. A velocidade não é mais a mesma do início, mas as guitarras continuam altas – e agora são no mínimo três.

PELVs não morreu.

2 responses to “bio

  1. da hora que não morreu. Adoro vocês, e espero vê-los em sampa qualquer hora dessas.

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